domingo, 27 de setembro de 2009

Entre-Senhas


Um dois três
Será a vez
em que mês
embriaguez

Um dois três
virei freguês
Como os reis
então sentei

Um dois três
o português
é as leis?
Eu já não sei

Um dois três
eu Esperei
faltam seis
É minha vez

sábado, 20 de junho de 2009

Reflexo

Lambi de seus lábios
um belo bolero.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A serviço do sino. (prov.)

Lendo Bandeira, em meio a um coletivo, me entra o contra-progresso aos meus olhos sem vício.
Pela porta de trás do veículo, dois homens, o gordo e o magro, entraram pedindo desculpas e prepararam o terreno:

- Bom dia a todos vocês! Meu nome é Fernando e o dele é Bruno. Somos ex-dependentes de drogas lícitas e ilícitas que, agora (!), estamos revertendo toda a ajuda que nos foi oferecida em prol àqueles que dela necessitam.
Os poemas, como não podia fugir, estavam interessantíssimos e aquele discurso que, duvido eu, alguém tenha entendido por completo, estava me atrapalhando. Belelelém, belelém, o som daquela voz falha estava me distraindo. Não tendo oportunidade porque o magro já contaminava o corredor, fixei meus olhos ao Bandeira e meus ouvidos a propaganda.

- Como puderam perceber, somos pacientes da casa de recuperação São Cristovão que auxilia e ajuda (?) dependentes químicos que não têm como voltar à vida. Eu acordava pra beber e bebia pra dormir. Eu poderia agora estar roubando, furtando, matando fazendo coisas erradas se meus vícios (deles) não fossem tratados.
Sempre aquele velho e gastado argumento: Roubar, matar, até se prostituir. Apesar de que desse último ele recorreria ao primeiro.

- O Bruno também fez parte e está aqui, junto comigo. Estamos vendendo essas humildes canetas que não são nada para vocês, mas são tudo pra quem precisa.
Era já a quinta vez que lia o mesmo verso: Belelém, belelém.

- Nós estamos agora com uma novidade!!! Antes vendíamos uma caneta por apenas um real, agora os senhores podem levar uma caneta com quatro cores: Vermelho, azul, verde e preto MAIS uma caneta com tinta perfumada e com aborrachado para facilitar a escrita por apenas dois reais!!! Ai vocês podem me perguntar: Por que agora são dois reais? E eu posso responder: Passamos 11 anos vendendo uma caneta por um real, como vocês podem ver tudo agora custa dois reais! Em nossas carteiras só têm notas de dois reais! E além do mais, agora são DUAS canetas, uma quatro cores e uma com tinta perfumada por apenas dois reais!
O sino já tocara 10 vezes, ao mesmo tempo em que ouvia o anúncio da Polishop, as baladas eram insistentes. Ouvia tudo dobrado, tudo por dois!

-Brunooo, o rapaz ali quer ver como que são as canetas de quatro cores. Você tem ai?
-Opa, tenho sim.
[O mesmo magro que infestara o corredor e não deixava eu ler, já tinha derramado suas canetas perfumadas no colo de todos que estavam sentados. Sorte, estava de pé]
O magro só servia se o seu amigo o assegurava. Parecia um furão entre o corredor. Mostrou, encarou e vendeu! Mais dois reais à casa de recuperação São Cristovão!
O discurso parou e os sinos também. Sentei ao lado do último comprador e ouvi os dois perdidos da rehab conversando:
- Porra, falei pra você que num é assim... Desse jeito não dá!
- Ah, desculpa ai então.
[Enquanto isso as canetas eram testadas em embalagens de cigarro]
Cinco pontos depois, 20 canetas vendidas, os soldados de Jesus drogado saíram recuperados.
-Obrigado seu motorista.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Artista

Ele me olhou daquela maneira etérea. Atravessei alguns mili segundos tentando entender o brilho daquele pesadelo redondo. Era como uma escopeta que poderia me furar em meio aos olhos e eu morreria sem saber. Mas ele não me matou. Não fisicamente. Ele me olhou com as pupilas pequenas, em meio àquela imensidão cor de terra, e num piscar eu estava de novo no saguão, mandando aqui e ali naqueles jovens entendidos. A arte nos uniu, mas nunca me senti tão conectada a ele quanto através de um olhar tão difuso.
Eles penduravam meus quadros nas linhas transparentes e ele fazia uma obra expressionista com o meu coração: o órgão era a sua obra de arte, e ele aproveitava para jorrar meu sangue nas paredes de sua mente, espetá-lo de ilusões e tingi-lo de falsas promessas. Conforme eu andava, sombreada pelo vidro fumê do museu, sentia no âmago que o silêncio era inversamente proporcional ao interesse dele.
Ele me olhou e me cortou. Quando as outras se aproximaram, eu mesma tratei de me enterrar.

pequeno pedido

Um nino mostrinho
Um pequeno tiquinho
Tetê narizinho
Ali no cantinho

Isso, rapazinho
Me dá um beijinho
Pra gente dançar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A nós.


Toda vez que eu penso em dança
Vem a valsa que nunca dançamos
Um dois três, Um dois três
Eu pego na sua mão

Minha mão vai à sua cintura
E sinto seus dedos perto de minha nuca
Um dois três, Um dois três
Parece baile de colegial

Eu fico nervoso, piso em seu pé
Você me assegura e me sinto preparado
Um dois três, Um dois três
Nós dois seguimos o ritmo

Eu pego o jeito e você me acompanha
Os nossos passos nos levam além
Um dois três, Um dois três
Vem a valsa que nunca dançamos

Quadro de Márcio Melo

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Carmim


Por que fazes isso
a só confundir
Do vinho e do branco
Mistura em jasmim

Já não me conheço
Não, longe de ti
Estas no desejo
És lindo marfim

Quem sabe a vida
Traz, tu!, bem aqui
Devolvas, ó linda
teu toque cetim

Agora já sei
tu já podes vir
Roubando a lei
Pintando em carmim.